Para que possamos discutir o uso de agrotóxicos de forma clara com os estudantes, é necessário entendermos quais os prejuízos essas substâncias podem causar em nosso corpo e no meio ambiente. Apontaremos pesquisas que demonstram que os agrotóxicos podem ter efeitos de contaminação imediata e/ou crônicas, que serão sentidas apenas transcorrido algum tempo após o contágio, demonstrando seu potencial prejuízo à saúde do ser humano.
De acordo com o Dossiê ABRASCO (2015), essas substâncias podem ser classificadas como pouco, mediano ou muito tóxico. Essa classificação, ainda que necessária, não ressalta que ainda que sejam classificados como medianamente ou pouco tóxicos, os agrotóxicos também podem causar efeitos crônicos que serão sentidos a médio ou longo prazo, manifestando-se em várias doenças como cânceres, más-formações congênitas, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais.
Para ilustrarmos os problemas de intoxicação por princípio ativo, no quadro 1, divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1996, são apresentados os sintomas de intoxicação aguda e crônica dos principais grupos químicos de agrotóxicos, associados ao seu uso comum na agricultura:
Quadro 3 – Classificação e efeitos e/ou sintomas agudos e crônicos dos agrotóxicos
Praga que controla | Grupo Químico | Sintomas de intoxicação aguda | Sintomas de intoxicação crônica |
Inseticidas | Organofosforados e carbamatos | Fraqueza, cólicas abdominais, vômitos, espasmos musculares e convulsões | Efeitos neurotóxicos retardados, alterações cromossômicas e dermatites de contato |
Organoclorados | Náuseas, vômitos, contrações musculares involuntárias | Lesões hepáticas, arritmias cardíacas, lesões renais e Neuropatias periféricas | Lesões hepáticas, arritmias cardíacas, lesões renais e Neuropatias periféricas |
Piretroides sintéticos | Irritações das conjuntivas, espirros, excitação, convulsões | Alergias, asma brônquica, irritações nas mucosas, hipersensibilidade | Alergias, asma brônquica, irritações nas mucosas, hipersensibilidade |
Fungicidas | Ditiocarbamatos | Tonteiras, vômitos, tremores musculares, dor de cabeça | Alergias respiratórias, dermatites, doença de Parkinson, cânceres |
Fentalamidas | Teratogêneses | ||
Herbicidas | Dinitroferóis e pentaciclorofenol | Dificuldade respiratória, hipertermia, convulsões | Cânceres (PCP-formação de dioxinas), cloroacnes |
Fenoxiacéticos | Perda de apetite, enjoo, vômitos, fasciculação muscular | Indução da produção de enzimas hepáticas, cânceres, teratogeneses | Indução da produção de enzimas hepáticas, cânceres, teratogeneses |
Dipiridilos | Sangramento nasal, fraqueza, desmaios, conjuntivites | Lesões hepáticas, dermatites de contato, fibrose pulmonar | Lesões hepáticas, dermatites de contato, fibrose pulmonar |
Estudiosos apontam, em pesquisas atuais, a relação do uso de pesticidas com desenvolvimento com o autismo em crianças e bebês. Pesquisa realizada na Califórnia (Ondine, ChenxiaoLing, XinCui, Myles Cockburn, Andrew S Park, FeiYu, Jun Wu e Beate Ritz) demonstrou o aumento das chances de desenvolvimento de autismo em crianças que foram expostas à pesticidas na fase neonatal. O Dossiê Abrasco (2015) também apontam estudos que determinaram a contaminação de agrotóxico no leite materno:
Diante deste cenário, podemos afirmar que essa luta contra os agrotóxicos é pauta permanente e estratégica para vários grupos que atuam em diferentes áreas, como o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e a saúde pública, além de grupos ambientalistas que lutam contra o agronegócio em função do seu potencial destrutivo por meio da poluição, desmatamento, contaminação de lençóis freáticos e outras causas.
Em especial, a luta contra os agrotóxicos ocorre em comunidades tradicionais, da segurança e soberania alimentar e nutricional, da agroecologia e da defesa dos direitos do consumidor. Está também em áreas distintas do conhecimento de instituições de ensino e pesquisa, nos conselhos de Saúde, de Segurança Alimentar e do Meio Ambiente, no Legislativo, no Judiciário e em diferentes experiências do Executivo.
Apesar de algumas conquistas das entidades que lutam por uma produção agrícola livre de agrotóxicos no país, o fato é que o processo produtivo agrícola brasileiro está cada vez mais dependente dos agrotóxicos e fertilizantes químicos e precisa ser conscientizado diante das possibilidades de contaminação por essas substâncias. Diante disso, é imprescindível que as crianças e jovens tenham acesso a esta discussão ainda em idade escolar, para que possam compreender os riscos e alternativas possíveis, de modo a atuarem como disseminadores deste conhecimento com suas famílias e comunidades.
Ações existentes já avançaram em certa medida na tomada de consciência de parte da sociedade brasileira. Estas ações foram e continuam sendo fundamentais para uma tomada de consciência da sociedade brasileira. Tais ações podem ser percebidas diante de uma crescente oferta e procura por alimentos orgânicos por parte de público. Este segmento, no entanto, não é acessível a todos:
“A sobrevalorização monetária se deve a que esse segmento de mercado evolui como um nicho estruturado para vincular comercialmente poucos produtores a poucos consumidores. Nesse contexto, a noção de liberdade de escolha não pode ser compreendida senão como mais uma mistificação de um sistema de poder econômico-ideológico erigido sob a égide da propaganda enganosa”. (CARNEIRO FF, PIGNATI W, RIGOTTO RM, AUGUSTO LGS, RIZOLLO A, MULLER NM, et al. Dossiê ABRASCO. Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Nutricional e Saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2015).
Faltam iniciativas que discutam este histórico com jovens, em especial os em situação de vulnerabilidade social, para que os riscos à saúde e meio ambiente do modelo de produção do agronegócio sejam esclarecidos. Neste sentido, este trabalho se propõe, por meio da construção de um produto educacional, discutir aspectos referentes aos problemas sociais, econômicos e de contaminação causados pelo uso indiscriminado dos agrotóxicos, sem deixar de evidenciar todo o percurso social, histórico e econômico do problema.
Portanto, se você professor quiser conversar com seus estudantes, busque fazê-los refletir os porquês de consumirmos alimentos altamente contaminados e quais as consequências isso pode trazer para a saúde dos seus alunos e familiares.